Projeto Beth Bruno e a Agroecologia

Por meio dessa iniciativa, o Projeto Beth Bruno cria um novo braço de atuação: dessa vez, a saúde da terra também é contemplada por meio da agroecologia

Com o apoio do Projeto Beth Bruno, o homeopata João Carlos da Silva visita as comunidades de Trairão, Rurópolis, Medicilândia, Monte Alegre e Gurupá para dar continuidade ao curso de Homeopatia no Solo.

Ivaneide, mais conhecida como Baixinha, é de Trairão, no Pará. PelaAgricultores aprendem sobre Agroecologia primeira vez ela participou do curso Homeopatia no Solo, ministrado pelo agricultor e terapeuta João Carlos da Silva, do Vale do Paraíso, em Rondônia. Há cerca de três anos, ele vem ensinando muitos dos agricultores participantes do Projeto Beth Bruno, e outros, a cuidar da terra com a homeopatia e outras técnicas da agroecologia que dispensam o uso de agrotóxicos. “Eu gostei muito do encontro porque muita gente aqui pensa em vender seus lotes. Mas, agora, com a ajuda do João Carlos, nós estamos mais incentivados a ficar e cuidar das nossas terras, porque é dela que conseguimos nosso alimento”, explica Ivaneide.

A coordenadora do Projeto Beth Bruno, Marialva Oliveira da Costa, também presidente da Associação Brasileira de Homeopatia Popular, foi quem teve a ideia de convidar João Carlos – tamanha a sua expertise no assunto – a transmitir esse conhecimento aos grupos participantes.

“Também faz parte da visão do Projeto Beth Bruno ajudar as pessoas a permanecerem em suas terras e com qualidade. Os agricultores não sabiam mais o que fazer. Eles passam veneno e ficam doentes, daí querem ir morar na cidade e procurar emprego. Não é possível você cuidar da saúde de alguém que está comendo tudo com veneno, que não tem uma alimentação saudável”, diz Marialva.

Felizmente, com a ajuda de João Carlos, esse panorama vem mudando. E muito! Zumé, também de Trairão, diz, que desde a primeira vez que o homeopata foi até o município, em agosto de 2017, a colônia já não está mais tão abandonada quanto antes. “Hoje temos muita coisa plantada no nosso lote sem agrotóxico, como feijão e mandioca. Você pode ir lá e não vai sair de mãos vazias”, conta Zumé.

“Nós somos um grupo de 15 pessoas e a cada reunião que fazemos, orientamos que todos trabalhem em suas terras sem veneno, que não a abandonem. Porque nós agricultores que somos pobres, o que podemos trazer de bom para nós é nossa alimentação saudável.”

Essa também foi a mesma boa impressão que Domingas Bonfim Santiago, de Rurópolis (PA), teve do curso. “O João Carlos nos assessorou com a questão da homeopatia na terra, a recuperação do solo, o cuidado com as plantas, homeopatia para os animais e também para o ser humano. Foi muito importante esse encontro porque os participantes tiveram uma noção de outras alternativas. A homeopatia vem para substituir essa forma tradicional de se trabalhar, que é usar o agrotóxico”, explica ela, uma das lideranças locais. “Estávamos em 24 participantes no curso e todos tiveram vontade de desenvolver isso em sua propriedade. Já estamos vendo a possibilidade de implantar os quintais ecológicos.”

Como o trabalho é feito

João Carlos primeiro ensina os participantes a observarem a vegetação e o tipo de terra de sua propriedade. Depois, utilizam a radiestesia, com o pêndulo, para verificar as necessidades da terra. Com a marcação dos pontos onde há desequilíbrio, a próxima etapa é ensinar a fazer a correção com a homeopatia e com outros recursos da agroecologia, como a compostagem, o biofertilizante, a cobertura morta e a arborização. Além disso, ensina também as pessoas identificarem as ervas medicinais em suas roças para poderem assim usufruir dos remédios naturais que possuem.

Cicliane Ferreira Jorge, de Medicilândia, diz que desde que aprendeu com João Carlos a usar a homeopatia, tem aplicado nos animais e no solo. “Já ministrei, por exemplo, em cachorros envenenados, carneiros que passaram por má digestão e nas terras de um agricultor, em Aracajá. Ele usava muito agrotóxico nos canteiros de cebola e as cebolas estavam definhando. Coloquei a homeopatia Nux Vomica e a cebola desenvolveu, voltou ao normal.” Segundo Cicliane, aos poucos, alguns vizinhos estão aderindo.

“É um trabalho no boca a boca, alguns agricultores acreditam e outros não. Eu e minha família estamos fazendo na nossa propriedade para mostrar que isso é bom, isso faz bem, e algumas pessoas estão tendo um outro olhar. Os agricultores precisam mudar o seu ponto de vista, deixar de trabalhar com agrotóxicos. O bom é que estamos sempre nos reunindo para trocar experiências e nos ajudar”,

conta Cicliane.

Agricultura orgânica se espalha

Além de Trairão, Medicilândia e Rurópolis, o especialista no assunto, João Carlos, esteve também – nos meses de agosto e setembro – em Placas, Monte Alegre e na comunidade quilombola Gurupá, no arquipélago do Marajó (todos municípios paraenses). “Todos os grupos fizeram o mesmo curso, mas em Monte Alegre foi a terceira vez que o João Carlos foi. Em Gurupá e Medicilândia, a primeira vez. Em Placas, Trairão e Rurópolis, a segunda. Nos lugares onde já tinha ido, ele fez um aprofundamento”, conta Marialva.

Agenor Ramos Pombos, morador de Gurupá, está entusiasmado com tudo o que aprendeu com João Carlos e diz que a comunidade também. “Foi para nós uma novidade porque a gente não sabia o que significava tudo aquilo, mas no final foi muito bom, muito bem entendido por todos. Ele nos mostrou dois caminhos importantes da radiestesia: um para cuidar do meio ambiente e outro da saúde humana. A comunidade está agora se preparando para pôr em prática tudo o que aprendemos no encontro. Na linha do tratamento do solo, por exemplo, já temos a orientação do Sr. João com cobertura orgânica para a recomposição do nosso solo de capoeiras”, explica Agenor.

Uma outra beleza desse trabalho de agricultura orgânica que vem sendo disseminado por João Carlos, com o apoio do Projeto Beth Bruno, é a generosidade das pessoas. “Por exemplo, João Carlos só chegou à comunidade quilombola Gurupá porque o Sr. Pedro Barbosa de Amorim, de Altamira, que já tinha feito o curso com ele e conhecia as pessoas de Gurupá, pediu que João Carlos fosse até lá. Outro ponto muito bonito é o fato de a maioria dos grupos já terem lideranças que conseguem fazer os repasses. Ou seja, eles fazem as visitas nos grupos independente do João estar com eles ou não. Os grupos já têm, inclusive, a dinâmica de se visitarem a cada um ou dois meses. Aí um grupo vai ajudando o outro”, enaltece Marialva.

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